quinta-feira, 29 de julho de 2010

LUVA E PEGA PANELAS

Como no palco o ator que é imperfeito
Faz mal o seu papel só por temor,
Ou quem, por ter repleto de ódio o peito
Vê o coração quebrar-se num tremor,


Em mim, por timidez, fica omitido
O rito mais solene da paixão;
E o meu amor eu vejo enfraquecido,
Vergado pela própria dimensão.




Seja meu livro então minha eloqüência,
Arauto mudo do que diz meu peito,
Que implora amor e busca recompensa





Mais que a língua que mais o tenha feito.
Saiba ler o que escreve o amor calado:
Ouvir com os olhos é do amor o fado.

William Shakespeare

ALMOFADAS DE ANIMAIS



A chuva passa
na rua, papel
que se amassa.

Robert Melançon



caligrama do mar
no papel de arroz
da areia

Alberto Marsicano

BANDO DE CORTINA

este papel de parede
ou ele se vai
ou eu me vou

Oscar Wilde




No céu enfeitado,
papagaio de papel:
também vou no vôo.

Anibal Beça



tinta no pincel
fantasia com asas
pardal no papel

Carlos Seabra




Com cartas brancas,
senhor cônsul solta
Pombos de papel.

Érico Veríssimo

PORTA PAPEL



Soneto 23 ~

Como no palco o ator que é imperfeito
Faz mal o seu papel só por temor,
Ou quem, por ter repleto de ódio o peito
Vê o coração quebrar-se num tremor,

Em mim, por timidez, fica omitido
O rito mais solene da paixão;
E o meu amor eu vejo enfraquecido,
Vergado pela própria dimensão.

Seja meu livro então minha eloqüência,
Arauto mudo do que diz meu peito,
Que implora amor e busca recompensa

Mais que a língua que mais o tenha feito.
Saiba ler o que escreve o amor calado:
Ouvir com os olhos é do amor o fado.

William Shakespeare

TOALHA FORMOSA



Nascemos para amar; a Humanidade

Vai, tarde ou cedo, aos laços da ternura.

Tu és doce atractivo, oh fermosura,

Que encanta, que seduz, que persuade.

Quantas vezes, Amor, me tens ferido!

Quantas vezes, Razão, me tens curado!

Quão fácil é de um estado a outro estado!

O mortal sem querer é conduzido!

Nos torpes laços de beleza impura

Jazem meu coração, meu pensamento...
Bocage

Manuel Maria Barbosa Du Bocage


MANTA VERDE




O tempo cobre o chão de verde manto, que já coberto de neve fria, e em mim converte em choro um doce canto. E afora este mudar-se a cada dia, outra mudança faz de mor espanto: Que não se muda já como soia.

Luis Vaz de Camões

ALGUMAS FLORES



Saudade,palavra doce,
que traduz tanto amargor!
Saudade é como se fosse
espinho cheirando amor.

Bastos Tigre

quarta-feira, 28 de julho de 2010

MANTA



Suave é tua memória
Quando pousa em minha lei
Doce foi a trajetória...
E mais que isso, não sei.

Cristina Faraon

BONECO DE NEVE

Lisboa"

Lisboa
Reflexo doce do Tejo
Caminho de luz coada
De encontros
Com água
Azul
E pedras da calçada
Gente e brumas
Cheiros e mágoas
Lágrimas de um tempo que se esgota
Penoso
Quando nos afastamos
E nos esquecemos
De amores
Barcos
E gaivotas

Edgardo Xavier


GATINHO BRANCO




Nascemos para amar; a Humanidade

Vai, tarde ou cedo, aos laços da ternura.

Tu és doce atractivo, oh fermosura,

Que encanta, que seduz, que persuade.

Quantas vezes, Amor, me tens ferido!

Quantas vezes, Razão, me tens curado!

Quão fácil é de um estado a outro estado!

O mortal sem querer é conduzido!

Nos torpes laços de beleza impura

Jazem meu coração, meu pensamento...
Bocage

Manuel Maria Barbosa Du Bocage

VIDRO LINDO



O tempo cobre o chão de verde manto, que já coberto de neve fria, e em mim converte em choro um doce canto. E afora este mudar-se a cada dia, outra mudança faz de mor espanto: Que não se muda já como soia.

Luis Vaz de Camões

ESPECIAL PARA BANDEJAS



Se tu amas uma flor que se acha numa estrela, é doce, de noite olhar o céu. Todas as estrelas estão floridas.

Sant-Exupery

VIDRO



por entre as vinhas,
ele abraça mais forte
e beija mais doce...

Rosa Clement

CORTINA



Pus-me a cantar minha pena
Com uma palavra tão doce
De maneira tão serena
Que até Deus pensou
Que fosse felicidade e não pena

Cecília Meireles

VIDROS COLORIDOS



No corpo feminino, esse retiro

No corpo feminino, esse retiro
— a doce bunda — é ainda o que prefiro.
A ela, meu mais íntimo suspiro,
pois tanto mais a apalpo quanto a miro.

Que tanto mais a quero, se me firo
em unhas protestantes, e respiro
a brisa dos planetas, no seu giro
lento, violento... Então, se ponho e tiro

a mão em concha — a mão, sábio papiro,
iluminando o gozo, qual lampiro,
ou se, dessedentado, já me estiro,

me penso, me restauro, me confiro,
o sentimento da morte eis que o adquiro:
de rola, a bunda torna-se vampiro.

Carlos Drummond de Andrade

JOGO AMERICANO - NATAL



Como dois e dois são quatro
Sei que a vida vale a pena
Embora o pão seja caro
E a liberdade pequena

Ferreira Gular

COBRE POTES



vende a vida inteira
pelo pão de cada dia
a liberdade bóia, fria

Goulart Gomes

FLOR



O rio que fazia uma volta
atrás da nossa casa
era a imagem de um vidro mole...

Passou um homem e disse:
Essa volta que o rio faz...
se chama enseada...

Não era mais a imagem de uma cobra de vidro
que fazia uma volta atrás da casa.
Era uma enseada.
Acho que o nome empobreceu a imagem.

Manoel de Barros

DETALHE PARA VIDRO



Rosto no vidro
uma criança eterna
olha o vazio

Alphonse Piché

SAQUINHOS CHARMOSOS

peixes voadores
ao golpe do ouro solar
estala em farpas o vidro do mar

José Juan Tablada



Trégua de vidro:
o canto da cigarra
perfura rochas.

Matsuo Bashô



Manhã de frio.
Se fosse menino escrevia
Meu nome no vidro.

Paulo Franchetti

PORTA VIDRO


gota no vidro
um rosto na janela
olhar perdido

SACOLA PRATA



Não quero uma vida pequena, um amor pequeno, uma alegria que caiba dentro da bolsa. Eu quero mais que isso. Quero o que não vejo. Quero o que não entendo. Quero muito e quero sem fim

Fernanda Mello


ESTOJO PARA CANETAS



a estrela cadente
me caiu ainda quente
na palma da mão

Paulo Leminski

ESTRELA

Na mesma pedra se encontram,
Conforme o povo traduz,
Quando se nasce - uma estrela,
Quando se morre - uma cruz.
Mas quantos que aqui repousam
Hão de emendar-nos assim:
"Ponham-me a cruz no princípio...
E a luz da estrela no fim!"

Mário Quintana




INSCRIÇÃO PARA UM PORTÃO DE CEMITÉRIO
Na mesma pedra se encontram,
Conforme o povo traduz,
Quando se nasce - uma estrela,
Quando se morre - uma cruz.
Mas quantos que aqui repousam
Hão de emendar-nos assim:
"Ponham-me a cruz no princípio...
E a luz da estrela no fim!"

Mário Quintana

É NATAL

Objeto
de meu mais desesperado desejo
não seja aquilo
por quem ardo e não vejo







seja estrela que me beija
oriente que me reja
azul amor beleza

faça qualquer coisa
mas pelo amor de deus
ou de nós dois

SEJA

Paulo Leminski

LAÇO ROXO



O amor é como laço de fita
Num momento é belo e formoso.
Num piscar de olhos se desfaz!
Parecendo um emaranhado de não sei o quê!

Glaura Paiva

CACHECOL



DA OBSERVAÇÃO
Não te irrites, por mais que te fizerem...
Estuda, a frio, o coração alheio.
Farás, assim, do mal que eles te querem,
Teu mais amável e sutil recreio...

Mário Quintana