terça-feira, 13 de julho de 2010

ABAJOUR


Um soneto

A vez primeira que eu te vi, em meio
Das harmonias de uma valsa, elado
O lábio trêmulo, esplêndido, rosado,
Num riso, um riso de alvoradas cheio.

Cheio de febres, em febril anseio
O meu olhar fervente, desvairado
Como um condor de flamas emplumado
Vingou-se a espádua e devorou-te o seio.

Depois, delírio atroz, loucura imensa!
A alma, o bem, a consciência, a crença
Lancei no incêndio dos olhares teus...

Hoje estou pronto à lívida jornada
Da descrença sem luz, da dor do nada...
Já disse ontem à noite, adeus, a Deus!

Euclides da Cunha

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