SONETO COM ESTRAMBOTE ENVIESADO
Alfaiate de mim costuro a roupa
que cabe ao figurino que me coube.
Só meu verso protege essa amargura
desfiada de dia ao sol veloz,
para à noite tecer nova textura,
novelo de silêncio ao rés da voz.
Enxoval construído nessa usura
solitária de andaimes, num retrós
de linha vertical, que se pendura
na pênsil teia atada, fio em foz
desse rio agulha que me costura
ao rendilhado de águas tropicais,
que sabe de saudades no meu cais.
Viageiro de uma sanha que me traz
sempre de volta ao tear do meu destino
na seda depressiva me assassino.
Anibal Beça
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